Hoje, 11 de julho, eleições para a Câmara Alta da Dieta do Japão, o equivalente ao Senado. Apesar do nome, quem manda para valer é Câmara Baixa, que passa as leis. Mas, se entendi bem, a não ser que o governo tenha 2/3 da Câmara Baixa, não consegue governar sem maioria também na Câmara Alta.
O que torna estas eleições importantes, apesar de não poderem causar uma mudança de governo. Estão sendo consideradas o grande teste ao governo do DPJ, partido que assumiu em 2009, no que foi a coisa mais próxima no Japão de uma alternância de poder a acontecer desde a Segunda Guerra Mundial.
(alguém aí lembra de Introdução a Ciência Política? "alternância de poder", essa coisinha que de acordo com alguns ocidentais vem logo depois de "eleições" na lista de ingredientes para uma democracia).
Desde 2009, a principal força política japonesa até então, o LDP, teve seus quadros e número de afiliados tão reduzidos que alguns consideram sua extinção apenas questão de tempo (ie, até que a "gerontocracia do partido" morra de causas naturais). O LDP simplesmente não sabe fazer oposição (uma espécie de PMDB japonês?), mas é a coisa mais próxima que o Japão tem disso hoje.
Caminho livre para o DPJ então? Não é bem assim, o voto de confiança que os japoneses deram ao DPJ transformou-se em uma taxa de aprovação de menos de 20% em menos de um ano, quando ficou claro que o novo partido recorria a práticas bastante parecidas ao seu antecessor. Um espinhoso problema sobre bases norte-americanas em Okinawa, que só fez deixar evidente as limitações do Japão em relação aos EUA (lembrem-se, este país foi ocupado), deu o tiro de misericórdia. Em conseqüência, mês passado, o Primeiro Ministro, Hatoyama, a renunciou, mas em seu sacrifício levou junto aquele que era considerado o verdadeiro chefão (e origem de muitos dos males) do DPJ, Ozawa.
Assumiu Kan, do mesmo partido, o que recuperou os índices de aprovação e deu origem a uma série de infâmes trocadilhos na imprensa anglo-saxã com seu nome (Kan he deliver? Yes, he Kan!). Único primeiro ministro que não é filho ou neto de um primeiro ministro em muitos anos, Kan talvez seja um passo a mais na necessária alternância de poder japonês. Talvez seja também a última esperança do DPJ de levar adiante as prometidas reformas que ganharam o voto dos japoneses: acabar com o desperdício de recursos públicos e com a "ditabranda" dos burocratas.
Tarefa dificílima, principalmente considerando que o principal ponto de sua atual plataforma de governo é dobrar o imposto ao consumidor (de 5% para 10%) para tentar arrumar as contas do governo (que deve muito mais do que o PIB) e evitar que aconteça aqui o que aconteceu na Grécia. Sorte deles que a oposição praticamente não existe.
A pergunta é se os japoneses assinarão esse cheque em branco. Dúvida maior ainda é o que pode acontecer se não assinarem - quem vai conseguir governar o Yamato?
Tudo isso para dizer que hoje aconteceram eleições muito importantes no Japão. É verdade que nas últimas semanas foram marcadas por campanhas, principalmente carros de som e cartazes, rigorosamente padronizados, mas nada que chamasse muita atenção. Achei que hoje seria diferente, moro ao lado de uma escola, colégio eleitoral, esperava ver o chão pavimentado de panfletos. Quase não deu para notar os eleitores.
PS na segunda: o cheque não tinha fundos, pelo jeito.
11 de jul. de 2010
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